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sábado, 22 de setembro de 2012

Vivemos um tempo em que o desespero conquistou a rua e a estupidez dominou o Sistema Político de Governo.



E agora?

Depois de uma semana em que os Cidadãos se uniram sob o lema do repúdio e da esperança, em que os níveis de expectativa cívica estiveram no seu máximo, por estranho que possa parecer, a Democracia corre um sério perigo.
O problema assenta na lentidão com que o Sistema Político de Governo assimila os “inputs” cívicos, a sua proverbial dificuldade em os interpretar, a sua tendência para os desvalorizar e a sua quase total incapacidade de funcionar, do ponto de vista das respostas, com a mesma dinâmica das exigências cívicas.
O Sistema Político de Governo vive um momento extraordinário porque está confrontado com uma situação extraordinária: a sua quase total rejeição por parte da maioria dos cidadãos.
É evidente que o Sistema Político de Governo já se viu confrontado com outros momentos de rejeição, mas desta vez a grande maioria dos contestatários são, precisamente, aqueles que lhe serviram de suporte durante décadas.
Voltando a Kuhn, vivemos um momento de ciência extraordinária em que o paradigma se transforma e a ciência tradicional continua a julgar que é apenas uma anomalia a corrigir com o tempo. Não é.
O paradigma que se impôs nestes dias é outro.
Pela resposta do Presidente da República percebemos que o Sistema Político de Governo não percebeu nada. Ao não perceber condenou-se à sua destruição por parte dos Cidadãos.
É nesta condenação que reside o perigo principal para a Democracia, muito especialmente para a democracia representativa.
A democracia representativa para funcionar precisa sempre de uma enorme dose de confiança cívica nas suas instituições e agentes. Uma confiança que permite que através de um contrato sagrado uns poucos governem em nome de muitos.
Essa confiança está completamente perdida e começam a surgir, por todo o lado, os apelos à chamada democracia directa, em que as assembleias cívicas, por maioria, determinam e agem sem intermediação.
Este forma de a democracia funcionar é explosiva para a própria Democracia, sobretudo por duas razões: o anular completo das minorias (forma-se uma ditadura da maioria à Rousseau) e abre-se o espaço para a entronização de caudilhos.
Não há nada mais manipulável do que as massas e não há nada que tenha menos consciência disso que as próprias massas.
A rua de hoje será diferente da rua de ontem. A rua de ontem era uma rua em que embora o repúdio pelo status quo fosse um denominador comum a esperança no Sistema Político de Governo ainda existia. A rua de hoje é uma rua de repúdio e uma rua sem esperança. Uma rua em que a permeabilidade à violência é enorme.
A violência gera violência numa espiral incontrolável a não ser por uma força e uma violência ainda maiores.
A História, essa velha mestre, dá-nos muitos e muitos exemplos disso.
Vivemos um tempo em que o desespero conquistou a rua e a estupidez dominou o Sistema Político de Governo.

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