“Abandonou
a linguagem vernácula para passar a utilizar formas mais subtis e sofisticadas
de comunicação, muitas graças às novas tecnologias e modernas técnicas de
marketing, tudo no sentido de estar mais bem apetrechado para convencer os
potenciais compradores das novas ilusões. Veste agora de forma muito mais
elegante e usa um corte de cabelo moderno. Exibe uma grande autoconfiança que,
por vezes, roça a altivez própria dos fracos. Dá mostra de intransigência
perante grupos isolados, prévia e cuidadosamente seleccionados, para mostrar ao
mercado que veio para ficar.
Cria
expectativas muito tentadoras que, a serem concretizadas, só o serão lá para as
calendas. É capaz de prometer a prosperidade para amanhã, quando a realidade é
a dívida crescer dia a dia.
É
um verdadeiro mestre a prometer hoje uma coisa para fazer o oposto amanhã, com
toda a tranquilidade e impunidade.”
José
da Silva Peneda in “O vendedor da banha da cobra”, publicado no JN em
2007.Jan.20
Desde
os meados da década de noventa do século passado (muito por culpa do senhor
Michael Porter e do provincianismo indígena), Portugal viu o seu léxico
quotidiano enfestado de umas expressões muito modernaças - por exemplo a “agenda”
(há agendas para quase tudo, desde a modernidade à competitividade, desde o
desenvolvimento à inovação), o “cluster”
e o “projecto” -, umas portuguesas outras anglo-saxónicas, que são repetidas
até à exaustão por tudo o quanto é político com escola quase reduzida às “jotas”
(o resto é obtido por equivalências mais ou menos desenvergonhadas), por
académicos com tiques de gestores e por gestores com tiques de académicos. Por
regra tanto esses políticos como esses académicos e gestores são uns
ignorantes, uns arrogantes e uns incompetentes (há excepções, não se assustem).
Essa
malta usa essas expressões a propósito de tudo e de nada, basta verem uma
plateia ou um microfone apontado.A “agenda para…”, o “cluster de…” e o “projecto para…”, tem para essa gentalha várias funções e utilidades: substitui, com toque “avant-garde”, os velhinhos “ora bem…” e do “portanto…” (que às vezes saía “portantes”), ou seja serve para tapar “brancas” de raciocínio e para enganar os otários, falando sem nada dizer; funciona como uma espécie de código verbal de identificação e de pertença a tribo (a tribo dos “yuppies” à portuguesa); e por último, mas não menos importante, fica “lindamente” com o fato cinza escuro, a camisa alva e a gravata às risquinhas.
Para
essa malta, Portugal não é um País. Para essa malta, Portugal, é um conjunto de
“sumários”, de “aglomerados” e de “experiências”. Para essa malta, Portugal e
os Portugueses, são abstracções e no limite realidades meramente conceptuais.
Todas
as vezes que ouço um desses cromos (no sentido vicentino de “tipo”) – e ouço-os
demasiadas vezes porque eles são muitos e cada mais – além de ficar irritado (o
que não é difícil porque sou facilmente irritável) penso sempre no Professor
Kilamba-Karamba.
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